Avião decolando em céu limpo, de madrugada. Escuro demais, constante demais, indecisão que flutua no céu. Para onde você está indo, camarada? Eu estou aqui, você me entende? Preso no solo com meus pensamentos tentando criar alguma forma. Você me compreende, avião inconstante no céu limpo? Nós estamos por aqui, nos machucando. Nos agredindo. Ignorando diálogos, transformando conversas em oratórias particulares. Nós estamos por aqui, olhando os resultados e os códigos de barra, manuseando máquinas e computadores. Estamos aqui, com a nossa mania de comparação. Analisando friamente os trabalhos e as produções, que flutuam e borbulham em frações de segundo, mas em instante se desmancham no esquecimento temporal. Eu coloquei uma régua em torno da minha cabeça para entender o quanto é frustrante cada comparação que eu faça. A comparação existe para que eu me sinta insuficiente nessa atmosfera produtiva. Me sinto insuficiente. O mundo produz demais, infelizmente não consigo acompanhar. Talvez o meu corpo adoeça mais facilmente, talvez eu esteja num limbo. Talvez a minha vida seja um eterno limbo.
São os sinais, Matheus. Penetram suas veias e criam uma atmosfera dentro de você que pode ser corrosiva. Todo mundo correndo na tentativa de ter controle sobre as suas ações e de repente, um sinal paralisa as pessoas em estado de choque. É esta a definição, são os sinais. Você de repente está num estado de choque, tentando prestar atenção na conversa de seus amigos, mas ao mesmo tempo em pânico e tremendo demais para poder prestar atenção, ou entender alguma coisa. Você retoma o diálogo e se lembra vagamente de ter escutado alguma coisa do tipo "ele já está trabalhando e provavelmente vai fazer um mestrado fora" ao tempo em que você está pensando que a vida é uma subida rápida até o tipo, porém uma descida lenta até o fim. Por isso é mortífera,destrutiva e choca tanto. A descida é lenta até o fim e você sabe que está caindo.
Ainda se lembra de mim, avião? Eu estou mentalizando esse diálogo com você. Você provavelmente está decolado sem turbulências e eu ainda acho que você deu uns giros em torno da lua, porque o céu está muito claro! É noite de verão, sabe como é que é né? Os corações ficam quentes, a respiração mais veloz. O sol causa isso, a culpa é dele. Você pode sair do limbo, o que você precisa é sentir os sinais. Será que ainda existe alguma coisa real, alguma coisa verdadeiramente real? Alguma coisa que faça os pelos do corpo inteiro entrarem em arrepios em um instante? Alguma coisa que realmente pulsa? Um organismo vivo! Você entende a importância dos sinais?
Mais uma noite dormindo sozinho nessa praia, é impossível não querer flutuar neste céu estrelado. A liberdade são flutuações no espaço-tempo, quebrando aquela concepção de linha horizontal. Mas porque estou usando essas palavras? Eu peguei esse pequeno caderno de experiências de solidão para não escrever sobre teorias, conceitos, para não entrar na esfera competitiva de discurso, você me entende? Eu quero gritar o agora. Escrevendo dessa forma eu consigo sentir minha respiração, eu consigo sentir o entusiasmo. A felicidade é uma casca de noz? Porque certamente (e ainda bem!) que esse texto não terá importância, não será institucionalizado ou irá se transformar em uma coisa plástica e volátil para seguir adiante naquilo que chamam de mercado. É um texto que me faz chorar no momento que eu escrevo. Certamente não vende. Fuga? Eu não estou fugindo constantemente da realidade, estou apenas seguindo os sinais. Criando aquilo que chamo de espaço. Eu não queria que a liberdade fosse individualizada, eu queria ver a cidade inteira se expressando de inúmeras formas, a cidade inteira sendo livre. Mas sei que não é possível, afinal nós estamos aqui embaixo, avião, nos machucando a todo instante.
O Avião foi embora e eu continuei no limbo!
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