quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Limbo

    Avião decolando em céu limpo, de madrugada. Escuro demais, constante demais, indecisão que flutua no céu. Para onde você está indo, meu camarada? Eu Estou aqui, você me entende? Preso no solo com meus pensamentos tentando criar alguma forma. Você me compreende, avião inconstante no céu limpo? Nós estamos por aqui, nos machucando. Nos agredindo. Ignorando diálogos, transformando conversas em oratórias particulares. Nós estamos por aqui, olhando os resultados e os códigos de barra, manuseando computadores e máquinas. Estamos aqui, com a nossa mania de comparação: Analisando friamente as produções e os trabalhos de outras as pessoas ao redor, coisas que flutuam e borbulham em frações de segundo, mas em instantes se desmancham no esquecimento temporal. Eu coloquei uma régua em torno da minha cabeça e me sinto frustrado por cada comparação que eu faço e que me sinto insuficiente nessa atmosfera produtiva. O mundo produz demais. Infelizmente não consigo acompanhar, talvez o meu corpo adoeça mais fácil do que o de outras pessoas, talvez eu esteja em um limbo. Talvez a minha vida seja um eterno limbo.


       São os sinais, Matheus. Penetram suas veias e criam uma atmosfera dentro de você, que pode ser corrosiva. Todo mundo correndo na tentativa de ter controle sobre as suas vidas e de repente, um sinal paralisa as pessoas num estado de choque. É esta a definição, são os sinais. Você, no momento está em estado de choque, tentando prestar atenção na conversa dos seus amigos, mas em pânico demais e tremendo demais para entender alguma coisa. Você retoma o diálogo e se lembra de ter escutado alguma frase meio cotidiana em que alguma pessoa é elogiada. "Ele já está trabalhando e provavelmente vai fazer um mestrado fora." Enquanto as horas naquela mesa passavam lentamente, você estava pensando que a vida é uma subida rápida até o topo, até o pico! Porém uma descida lenta e que te faz lembrar o tempo todo. Até o fim. Por isso é mortífera, é destrutiva e choca tanto. A descida é lenta até o final e você tem a consciência de que está caindo. Mas os sinais, Matheus, você não entende os sinais.


Ainda se lembra de mim, avião? Você está decolando, provavelmente sem turbulências, e eu ainda acho que você deu alguns giros em torno da lua, porque o céu está muito claro! É noite de verão, sabe como que é né? Os corações ficam quentes, a respiração mais veloz. O sol causa isso, é culpa dele. Você pode sair do limbo, o que você precisa é sentir os sinais. Será que ainda existe alguma coisa real, alguma coisa verdadeiramente real? Alguma coisa que arrepie todos os pelos dos braços e das pernas ao mesmo tempo? Alguma coisa real, alguma coisa que pulsa? Um organismo vivo! Você entende a importância dos sinais? Os sinais da atmosfera, os sinais do planeta, os sinais do sistema solar, como eles se conectam?


    Mais uma noite dormindo sozinho nessa praia. Não é apenas um avião que passa por aqui, são vários. Eu até entendo, é impossível não querer flutuar nesse céu estrelado! Eu peguei esse pequeno caderno de experiências solitárias para não escrever sobre teorias, conceitos, para não entrar na esfera competitiva de discurso, você me entende? Eu quero gritar o agora. Escrevendo dessa forma eu consigo sentir a minha respiração, eu consigo sentir o meu entusiasmo. A felicidade é uma casca de noz?  Porque certamente (e ainda bem!) esse texto não será importante, ou institucionalizado, ou teorizado e transformado em alguma coisa plástica e volátil para seguir adiante naquilo que chamam de mercado. É um texto que me faz chorar, no exato momento em que eu escrevo ele. Com certeza não vende. Fuga? Eu não diria que eu sou alguém que está em fuga constante da realidade, eu apenas sigo os sinais da minha casca de noz e crio aquilo que eu chamo de espaço. Eu não quero que a liberdade seja individualizada, eu gostaria de ver a cidade inteira se expressando, mas a essa altura do campeonato? Eu sei que isso não é possível. Afinal, nós estamos aqui embaixo, avião, nos machucando a todo instante.



Eu continuei no limbo e o avião foi embora!






        

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