segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Chove e eu estou tentando encontrar uma saída. E ando pelas ruas, mas ninguém lá fora sabe o que passa aqui dentro. Tentando encontrar maneiras de entender o que está acontecendo e me perco nas mesmas promessas de sempre, o que torna mais angustiante, pois a amargura sobe a cabeça quando você pensa que exatamente há um ano atrás, você chegou a pensar que estaria melhor se seguisse aquele conjunto de ações. E na primeira recaída, você desmerece ou desacredita de todo caminho que seguiu para se sentir melhor. A sua necessidade de melhorar é tão desesperada que cria um monstro que consegue atacar a você mesmo, tirando todo o ar do seu peito. 

Eu não me assusto mais com a palavra loucura, afinal quem é capaz de se considerar dentro de uma normalidade nos dias de hoje? Uma normalidade que é apenas destrutível e valoriza a melhor performasse teatral dentro da peça que é a vida. Mas por que ver a vida como uma peça mano? A vida é isso ai que está acontecendo e você não consegue entender. É essa merda aí, indecifrável, essas coisas que acontecem todos os dias e mesmo assim, não parecem mostrar nenhum sentido, tá ligado? Alguém me disse uma vez que se você vomita todo o sofrimento pra fora, você não tem segredos. E se você não tem segredos, você não aproxima ninguém. Tá vendo, velho? Tá na moda ser performático. Para pra pensar, quando o real é muito difuso, quando o real é muito confuso e destrutivo, as pessoas vão criar uma fantasia para se livrar do difuso, do imóvel e estático. As pessoas querem ser amadas, as pessoas precisam ser amadas. 


Por que não me adapto? Duas, três, quatro, cinco horas e eu repito essa pergunta inúmeras vezes no mesmo dia. Por que continuo a vomitar meu sofrimento para qualquer lado, continuo a externalizar o meu ódio, continuo a encarar todas as pessoas e continuo com esse eterno semblante de quem não aguenta mais? 

Porque eu quero sentir, porque eu quero viver algo real, porque eu quero ser alguma coisa real, porque eu quero falar sobre alguma coisa real, porque eu não quero entrar nessa performasse novamente, porque eu não quero ser aquilo que esperam de mim, porque eu não quero viver em função do que esperam de mim, porque eu não quero esse muro de material impenetrável que separa o que as pessoas sentem do que as pessoas dizem. Porque eu quero apertar a ferida, se for pra apertar. Mas eu também quero ajudar a sarar. Não vê que todo mundo morre? Não vê que todo mundo vive uma vida extremamente sufocante até morrer? Não vê que todo mundo se desespera com uma luta sem nenhum tipo de moldura ou solidez? Você luta pelo que e contra o que? Você ignora o fim. Ou pelo menos externamente, já que não é permitido ser honesto com o que você sente.


E sobre as pessoas: Passe por cima, pise, agrida, ignore, exclua, o olhar sempre em você. Não tem trocado, se vire. Foda-se, eu não me importo. O difícil é viver: Mas é difícil pra mim, difícil pra você, difícil pra qualquer alma viva nesta merda. 

domingo, 12 de novembro de 2017

Final Complicado


um pouco de romantismo pra provar q eu amo coisas que odeio.
Cada memória é um golpe profundo,
A dor se alastra em todo meu corpo
Gerando vício, gerando silêncio.
As cicatrizes estão ardendo


O que resta de você são memórias de uma mente não confiável 
Cheiro do mar vazio, vento e sombras. Tudo vazio.
E a incapacidade de seguir nesse caminho turvo,
Sem espaço pra respirar.


A vida sempre foi solidão,
Mas sem a sua presença é apenas pólvora para dentro,
E o gatilho que estou prestes a apertar,
por ter a certeza que as próximas vezes serão cíclicas 
E eu não terei a capacidade de sair desse ciclo vicioso,
com relações e momentos repetidos, 
nada novo.
nada real.



O meu corpo inteiro treme,
Mas o filtro da minha mente me conforta,
pois me presenteia com memórias confortantes de algo que não existe na minha consciência.
A dor é confortável em seu próprio espaço 
E então,
me reciclo novamente,
neste claustro que é viver.


Talvez se tivesse ido embora não teria me permitido sofrer mais  
Quero viver para continuar sentindo a dor,
a dor desta cicatriz....
que nunca irá sarar.

sábado, 23 de setembro de 2017

FALL

Caindo em pedaços
Eles falam do fundo do poço,
Cavei o mais fundo que podia
Assisti a minha própria destruição,
Vi o meu corpo destroçado em fragmentos de ódio e pedaços de lixo
Ainda sim não tinha chegado no fundo do poço


Faltava o ar,
Não sentia frio, não sentia calor
Largado no meio dessa cidade imunda sem nenhum propósito
Me juntei aos ratos na madrugada
Tiro os sapatos,
Piso propositalmente em cada caco de vidro que eles deixam em suas garrafas quebradas
O fundo do poço se aproximava
A dor era confortável em seu próprio espaço
Em seu retrato escuro ou cinzento
A gente morre estando vivo



E morra quantas vezes for necessário
O fundo do poço não é o fim
É apenas uma queda.


Siento la Gravidad empujarme
El peso de los dias


sábado, 1 de julho de 2017

Pulsação

Movimenta-se com uma pulsação descompassada
A noite chega e os olhos são frígidos,
Caminhando em círculos até a insônia chegar
Preso entre portas fechadas,
Portas fechadas que deixam os olhos abertos.
E os olhos abertos que passam a dominar a pulsação,
medição frequente.



E aos poucos a pulsação entra em compasso,
O equilíbrio tem longa duração desta vez.
Jamais esquecer as raízes, construídas sob muita solidão e tristeza
Jamais esquecer as raízes, construídas sob angústia e paranoia.
Definitivamente não se existe para agradar e vestir máscaras,
Falar o que ambiente espera, a maior estupidez que já fizestes.
Sua expressão deve ultrapassar qualquer limite.
A vida apenas É.


Solidão que cativa, seduz e mata.
Profundo mergulho no oceano de mágoas,
E apenas vai assistir a sua morte, sem mergulhar?


Sem mergulhar?

terça-feira, 18 de abril de 2017

Cachoeira.

    Sandra percorre montanhas e cachoeiras em seus sonhos. Escreve sempre tudo o que vê em seu pequeno caderno. Está sozinha, como sempre esteve. Talvez só agora foi possível notar: As marcas de sangue nos braços podem trazer algum significado dessa constante nebulosidade que foi a sua vida. O seu antigo e único apartamento no centro da cidade agora está muito mais longe do que se imagina. Sandra está perdida dentro de um sonho, dentro de um pesadelo numa madrugada de segunda feira. Quando acorda, espera desesperadamente que as pessoas acreditem nos seus sonhos, pois eles significam muito mais do que qualquer coisa. A sua rotina sempre foi exagerada, eu digo, exaustivamente, dolorosamente e enlouquecidamente exagerada ao ponto de uma cobrança diária ter se transformado numa psicose. Ninguém a perturbava, era apenas individual. Sandra morava sozinha e tinha uma vida resolvida, não era necessário expandir. Mas que expansão era essa? Todo o seu esforço para o entendimento do grande quebra cabeça dentro da sua mente foi em vão. No fim, tudo se transformou em uma incerteza angustiante, sem caminhos e formas.
      Antes de tudo: Todos os pequenos passos não mostram nenhuma luz de fim de túnel. São apenas passos em torno de um mesmo ponto fixo que perpassam a sensação angustiante de não sair do lugar. O giro urbano...A cidade que mantém as suas ruas, o barulho que destrói os ouvidos, os problemas cardíacos e respiratórios, o estado permanente de um hipocondríaco, as buzinas e as irritações de todas as pessoas que circulam pelas ruas, os passos rápidos e paranoicos, sufocantes. Todos mentem, todos se odeiam e todos choram. Tudo isso num movimento síncrono diário, como se hoje fosse exatamente igual a ontem. E  ainda sim, Sandra acredita que amanhã será diferente de hoje. Quando percebeu que tinha acordado com o barulho do despertador, preparou os braços e cortou-se numa veia profunda: Apertou e sentiu o sangue espirrar para todos os lados: Sandra se libertava de uma dor psicológica gerada pela realidade, transformando-a em uma dor física. As gotas vermelhas eram delirantes e o sangue espirrava dos seus braços finos como uma  grande fonte de água. Não queria ter saído do pesadelo, acordar nunca foi bom, pois Sandra era viciada em tudo, menos na realidade.
       Na sua memória:Lembra que as gostas de sangue eram hematomas deixados pelo seu pai, antigamente. Agora Sandra está sozinha, com uma mãe morta e um pai preso. Mas um pai que talvez seria melhor se fosse esquecido. Entretanto, a calmaria de uma vida contemporânea, individualizada e solitária não foi o suficiente para inibir a ação corrosiva dos seus tramas. É manhã, bem cedinho. O sangue escorre pelo chuveiro do apartamento central enquanto o despertador faz um barulho assustador. É apenas o começo do seu dia.
   

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Sensação de estragar tudo

        Egoísmo. É egoísta pensar pelos outros, tentar decifrar o nível de ódio que eles tem por você. Engraçado, além de egoísta é um ciclo que você (Eu) gera a você mesmo. Por pensar que as pessoas estão constantemente irritadas com a sua presença, você poderá gerar irritação. Pode continuar andando e agindo normalmente como se nada tivesse acontecido, é uma justificativa plausível para o aquilo que você mais gosta de ouvir: Só consegue se sentir bem quando está sozinho. É provavelmente por isso que você morrerá mais cedo, porque uma hora estará farto de tanta solidão. Alguém que conseguiu ser egoísta a vida inteira e em nenhum momento cedeu. Ou talvez alguém que esteja cedendo ao máximo e se esbarrando no egoísmo alheio, com uma negatividade em torno de si mesmo. Vendo tudo de forma milimetricamente distorcida por uma cabeça doente. É um exercício, rapidamente se encaixa no cérebro. Um exercício de interpretação tendenciosa, a partir do momento que todas as ações das outras pessoas podem ser vistas, com alguma lógica psicótica, como ações que foram feitas para demonstrar irritação com a sua presença, com a sua forma de ser.
 
        A sua personalidade é compulsória, apesar de mutável. Você se obriga a pensar em certas coisas, talvez pelo vazio ou pelo próprio existencialismo em sua forma concreta. A vida é uma sucessão de frustrações? É fácil pesar isso quando você cria frustrações que não existem. Honestamente, eu não entendo, talvez eu seja cartesiano ou linear demais para entender essa sua visão viciada. Enquanto isso ele (o ser mais arrogante em suas neuroses) procurava lugares desertos para o seu próximo isolamento, o seu próximo comodismo confortável em uma solidão incerta que destruirá a sua própria existência. Mas como escapar? É provável que continue platonizando capas e gostos em comum, é provável que continue criando expectativas em torno de coisas voláteis e inconstantes. Porque você é volátil, você é inconstante. É nessa hora que você se lembra que de certo modo, você atrai o que você transmite enquanto esse mundo continua girando alucinadamente. Deixe a música mais forte, prossiga, aumente o volume do fone de ouvido e passe por todo mundo como se não tivesse passado por ninguém, depois crie uma irritação inexistente pela presença delas. Percebe? Você transmitiu, você recebeu.

    E quando você consegue tempo demais para refletir em torno de si mesmo, logo se lembra que as máquinas de destruição em massa da rotina logo voltarão para continuarem o longo processo que é matar você aos poucos, com a técnica de comprimir seu cérebro e criar vício em torno da sua existência, como um ser material, sem nada a oferecer além de matéria com validade marcada para deixar de ser funcional. Seu escroto, eu odeio você. Seu desgraçado. Você acaba comigo, caralho. É preciso sentir coisas fortes pra acalmar esse pensamento. Até onde vai esse seu pensamento envenenado e doente? Então, novamente, ele entra num espaço público e começa a bater no piano e se tremer e começa a tocar melodias que ele sabe que irá deixar as pessoas amarguradas. E ele calculou isso, meticulosamente: Como deixar as pessoas amarguradas com sua música horrível e frustrante que sai de um piano num espaço público. Até que alguém segura em sua mão e com aquele rosto quase inexistente de tanta secura e finura, pediu que por favor, parasse. Ei, você não vê que eu sofro? Você não ver que eu sofro como você? Que eu tenho angústias parecidas, que eu me cobro e penso que decepciono todo mundo da mesma forma que você? Será que o seu egoísmo te cegou, completamente? É o Vício? O vício em escrever, fazer, respirar, enxergar, ouvir, raciocinar coisas tristes? Vamos fazer um acordo, eu prometo te machucar todos os dias e você promete me machucar todos os dias. Após isso vai ser real, nós vamos sofrer, verdadeiramente falando. Vamos ter motivos concretos para fazer aquilo que a gente mais gosta: Sofrer. Sim, sofrer sabe? Chorar, deixar as lágrimas escorrerem, deixar a chuva molhar e deixar o resfriado tomar conta.

      -  Você não tem nada de especial, nem eu. Mata essa arrogância, mas não com um tiro. Com uma facada, profunda, para que seja possível expurgar o veneno que ela deixou em você. O caminho é você mesmo, mas não deixe de vestir uma roupa em seus reflexos. A utilização de máscaras é necessária para manutenção da existência.

       - Mentira, você está me manipulando. Você está me destruindo, eu não preciso usar máscaras. Eu não preciso me adaptar a sociedade como você diz, eu não preciso sorrir e dizer que está tudo bem, eu não preciso fazer cara séria no trabalho, eu não preciso viver.


     [...]




quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Limbo

        Avião decolando em céu limpo, de madrugada. Escuro demais, constante demais, indecisão que flutua no céu. Para onde você está indo, camarada? Eu estou aqui, você me entende? Preso no solo com meus pensamentos tentando criar alguma forma. Você me compreende, avião inconstante no céu limpo? Nós estamos por aqui, nos machucando. Nos agredindo. Ignorando diálogos, transformando conversas em oratórias particulares. Nós estamos por aqui, olhando os resultados e os códigos de barra, manuseando máquinas e computadores. Estamos aqui, com a nossa mania de comparação. Analisando friamente os trabalhos e as produções, que flutuam e borbulham em frações de segundo, mas em instante se desmancham no esquecimento temporal. Eu coloquei uma régua em torno da minha cabeça para entender o quanto é frustrante cada comparação que eu faça. A comparação existe para que eu me sinta insuficiente nessa atmosfera produtiva. Me sinto insuficiente. O mundo produz demais, infelizmente não consigo acompanhar. Talvez o meu corpo adoeça mais facilmente, talvez eu esteja num limbo. Talvez a minha vida seja um eterno limbo.

         São os sinais, Matheus. Penetram suas veias e criam uma atmosfera dentro de você que pode ser corrosiva. Todo mundo correndo na tentativa de ter controle sobre as suas ações e de repente, um sinal paralisa as pessoas em estado de choque. É esta a definição, são os sinais. Você de repente está num estado de choque, tentando prestar atenção na conversa de seus amigos, mas ao mesmo tempo em pânico e tremendo demais para poder prestar atenção, ou entender alguma coisa. Você retoma o diálogo e se lembra vagamente de ter escutado alguma coisa do tipo "ele já está trabalhando e provavelmente vai fazer um mestrado fora" ao tempo em que você está pensando que a vida é uma subida rápida até o tipo, porém uma descida lenta até o fim. Por isso é mortífera,destrutiva e choca tanto. A descida é lenta até o fim e você sabe que está caindo.

         Ainda se lembra de mim, avião? Eu estou mentalizando esse diálogo com você. Você provavelmente está decolado sem turbulências e eu ainda acho que você deu uns giros em torno da lua, porque o céu está muito claro! É noite de verão, sabe como é que é né? Os corações ficam quentes, a respiração mais veloz. O sol causa isso, a culpa é dele. Você pode sair do limbo, o que você precisa é sentir os sinais. Será que ainda existe alguma coisa real, alguma coisa verdadeiramente real? Alguma coisa que faça os pelos do corpo inteiro entrarem em arrepios em um instante? Alguma coisa que realmente pulsa? Um organismo vivo! Você entende a importância dos sinais?


        Mais uma noite dormindo sozinho nessa praia, é impossível não querer flutuar neste céu estrelado. A liberdade são flutuações no espaço-tempo, quebrando aquela concepção de linha horizontal. Mas porque estou usando essas palavras? Eu peguei esse pequeno caderno de experiências de solidão para não escrever sobre teorias, conceitos, para não entrar na esfera competitiva de discurso, você me entende?  Eu quero gritar o agora. Escrevendo dessa forma eu consigo sentir minha respiração, eu consigo sentir o entusiasmo. A felicidade é uma casca de noz? Porque certamente (e ainda bem!) que esse texto não terá importância, não será institucionalizado ou irá se transformar em uma coisa plástica e volátil para seguir adiante naquilo que chamam de mercado. É um texto que me faz chorar no momento que eu escrevo. Certamente não vende. Fuga? Eu não estou fugindo constantemente da realidade, estou apenas seguindo os sinais. Criando aquilo que chamo de espaço. Eu não queria que a liberdade fosse individualizada, eu queria ver a cidade inteira se expressando de inúmeras formas, a cidade inteira sendo livre. Mas sei que não é possível, afinal nós estamos aqui embaixo, avião, nos machucando a todo instante.

O Avião foi embora e eu continuei no limbo!

Limbo

    Avião decolando em céu limpo, de madrugada. Escuro demais, constante demais, indecisão que flutua no céu. Para onde você está indo, meu camarada? Eu Estou aqui, você me entende? Preso no solo com meus pensamentos tentando criar alguma forma. Você me compreende, avião inconstante no céu limpo? Nós estamos por aqui, nos machucando. Nos agredindo. Ignorando diálogos, transformando conversas em oratórias particulares. Nós estamos por aqui, olhando os resultados e os códigos de barra, manuseando computadores e máquinas. Estamos aqui, com a nossa mania de comparação: Analisando friamente as produções e os trabalhos de outras as pessoas ao redor, coisas que flutuam e borbulham em frações de segundo, mas em instantes se desmancham no esquecimento temporal. Eu coloquei uma régua em torno da minha cabeça e me sinto frustrado por cada comparação que eu faço e que me sinto insuficiente nessa atmosfera produtiva. O mundo produz demais. Infelizmente não consigo acompanhar, talvez o meu corpo adoeça mais fácil do que o de outras pessoas, talvez eu esteja em um limbo. Talvez a minha vida seja um eterno limbo.


       São os sinais, Matheus. Penetram suas veias e criam uma atmosfera dentro de você, que pode ser corrosiva. Todo mundo correndo na tentativa de ter controle sobre as suas vidas e de repente, um sinal paralisa as pessoas num estado de choque. É esta a definição, são os sinais. Você, no momento está em estado de choque, tentando prestar atenção na conversa dos seus amigos, mas em pânico demais e tremendo demais para entender alguma coisa. Você retoma o diálogo e se lembra de ter escutado alguma frase meio cotidiana em que alguma pessoa é elogiada. "Ele já está trabalhando e provavelmente vai fazer um mestrado fora." Enquanto as horas naquela mesa passavam lentamente, você estava pensando que a vida é uma subida rápida até o topo, até o pico! Porém uma descida lenta e que te faz lembrar o tempo todo. Até o fim. Por isso é mortífera, é destrutiva e choca tanto. A descida é lenta até o final e você tem a consciência de que está caindo. Mas os sinais, Matheus, você não entende os sinais.


Ainda se lembra de mim, avião? Você está decolando, provavelmente sem turbulências, e eu ainda acho que você deu alguns giros em torno da lua, porque o céu está muito claro! É noite de verão, sabe como que é né? Os corações ficam quentes, a respiração mais veloz. O sol causa isso, é culpa dele. Você pode sair do limbo, o que você precisa é sentir os sinais. Será que ainda existe alguma coisa real, alguma coisa verdadeiramente real? Alguma coisa que arrepie todos os pelos dos braços e das pernas ao mesmo tempo? Alguma coisa real, alguma coisa que pulsa? Um organismo vivo! Você entende a importância dos sinais? Os sinais da atmosfera, os sinais do planeta, os sinais do sistema solar, como eles se conectam?


    Mais uma noite dormindo sozinho nessa praia. Não é apenas um avião que passa por aqui, são vários. Eu até entendo, é impossível não querer flutuar nesse céu estrelado! Eu peguei esse pequeno caderno de experiências solitárias para não escrever sobre teorias, conceitos, para não entrar na esfera competitiva de discurso, você me entende? Eu quero gritar o agora. Escrevendo dessa forma eu consigo sentir a minha respiração, eu consigo sentir o meu entusiasmo. A felicidade é uma casca de noz?  Porque certamente (e ainda bem!) esse texto não será importante, ou institucionalizado, ou teorizado e transformado em alguma coisa plástica e volátil para seguir adiante naquilo que chamam de mercado. É um texto que me faz chorar, no exato momento em que eu escrevo ele. Com certeza não vende. Fuga? Eu não diria que eu sou alguém que está em fuga constante da realidade, eu apenas sigo os sinais da minha casca de noz e crio aquilo que eu chamo de espaço. Eu não quero que a liberdade seja individualizada, eu gostaria de ver a cidade inteira se expressando, mas a essa altura do campeonato? Eu sei que isso não é possível. Afinal, nós estamos aqui embaixo, avião, nos machucando a todo instante.



Eu continuei no limbo e o avião foi embora!