CONTO 01
Contou as chaves, rodou a maçaneta. Silêncio dentro do quarto, mas era possível ouvir os gemidos dos vizinhos transando pelas paredes. 40 reais pra dormir. Agora sim, estava na metrópole. Resistindo as pessoas mais falsas que você pode imaginar. Vendo todas as pessoas fingirem demência pela janela do quarto. Esse filme já passou pela sua cabeça, pois já tinha passado algumas vezes naquela cidade, naquele quarto.
Quando abriu a porta do banheiro sem box, saíram algumas baratas. - As baratas fazem alguma diferença? - Pegou as coisas, tomou banho, colocou a mesma calça jeans de meses, uma camiseta qualquer de 20 reais e foi a padaria. Andava rápido, olhava focando no chão, porém com uma atenção periférica extremamente aguçada, pois sempre esteve sozinho e sempre precisou ser o primeiro a perceber algum perigo. Ignorava rapidamente os mendigos, evitava qualquer olhar quando estava sendo encarado por alguém. Dessa forma se protegia, um rastro imperceptível passando. A solidão o protegia. Centro de si mesmo.
8 tiros foram necessários para provocar o corre corre e provar que não existia proteção nenhuma. Gritos, cada um tentando achar um canto pra se abaixar, ninguém sabia mais quem tava atirando: Era apenas uma situação normal no centro de alguma grande cidade, cuja importância de ser mencionada nessa situação é praticamente zero, afinal qualquer cidade é frágil e imprevisível. Qualquer lugar é frágil e imprevisível. Ninguém está protegido.
E no meio dos barulhos, das sirenes, de gritos e choros que entraram em choque com o silêncio da madrugada, rapidamente viu alguém ser alvejado. Na sua frente, na cabeça. Agonizou por 4 segundos e depois não emitia mais nenhuma reação, morreu na hora.
Ficou abaixado, um pouco assustado mas mantendo a sua atenção periférica, aquela que salvou sua vida naquele momento.
Ficou abaixado, um pouco assustado mas mantendo a sua atenção periférica, aquela que salvou sua vida naquele momento.
Assim começava o seu tratamento.
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