Estava em um daqueles sonhos que não queremos sair nunca, tudo parecia tão sereno e belo ao mesmo tempo.Um tempo depois, um barulho meio estranho deu adeus ao o sonho e abriu seus olhos diante daquela parede velha e esburacada da sua casa. Tomou logo um susto, com a quantidade de sangue que tava na porta e resolveu aproximar-se um pouco mais para entender o que havia por ali, junto ao silêncio que rangia pela casa. Diante de tantas lágrimas, conseguiu enxergar o corpo dos pais em cima do sofá, com vários tiros, ao mesmo tempo em que os policiais chegaram arrombando a porta.
Bandido tinha sumido, mas a polícia não tinha nenhum interesse em achá-lo, então prendeu o único que sobrou naquela casa, alegando duplo homicídio. Mas perai, matar os pais? Quem não tem bom advogado, permanece na cela suja.
Muita sorte que, no mesmo dia, outros policiais acharam o verdadeiro assassino dos pais e eles bateram olhares dentro da delegacia, fazendo tremer aquele filho que foi preso indefeso:
- Como é teu nome? Olhando nos olhos marcados e na lágrima escorrendo no rosto
- Wesley.
- Que nome de merda,muleque.Ta liberado, os bandidos do teu pai foram achados.
- Mas, seu delegado, cade o corpo dos meus pais? Eu quero vê-los pela última vez!
- Tem dinheiro pra bancar um enterro? Então foda-se. Me deixa que to cheio de merda pra fazer. Wesley tentou voltar pra casa.
A noite caia, junto com o frio que acobertava aquela camisa regata manchada de sangue, junto aquela bermuda pequena. Depois veio a chuva, deixando-o ensopado. Não tinha coragem de voltar pra casa e a única solução que via era em deus, por isso entrou na igreja pra rezar. Retirado pelos seguranças, alegando que não poderia entrar naquele estado e a única coisa que sobrava na cabeça de Wesley era o ódio.
Estava deslocado e perdeu qualquer linha de pensamento lógico, pois o ódio tomava conta da sua cabeça e preparava para o enfrentamento. Não pensou duas vezes, entrou na casa de um traficante antigo do seu bairro, pegou a glock escondida no armário e saiu nas ruas, enquanto a noite já dava lugar ao sol. Precisava ser discreto, pois qualquer movimento no silêncio da manhã poderia ser facilmente perceptível. Tomou rumo ao parque de diversões, onde sempre pediu aos pais para ir, mas não tinha dinheiro para isso. Ele via aquele lugar como paraíso das crianças, onde eram felizes junto com os seus pais. Isso alimentava sua raiva e jogava restos de compaixão no lixo.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze tiros. O suficiente pra matar 6 crianças e 9 adultos. Conhecia bem o lugar e sabia se esconder, então largou a arma no chão e seguiu em direção ao parque, passando em meio aquele desespero no cantinho, com um olhar sereno e discreto.
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