sábado, 3 de dezembro de 2016

Eu poderia até segurar sua mão como um gesto romântico, mas o meu corpo é gelado e você tremeria de frio.

    O encontro:

    Chave, porta, botão, controle, é mais um dia. Passa como um vulto, inexpressível, imperceptível mas de certa forma, veloz. Esse é o dia da sua rotina. Posters e restos de lixo em um apartamento vazio que já mora há alguns anos e nunca se sentiu em um lar, o seu lar sempre foi o movimento. Você também sabe que a cidade é cinza e que o dia provavelmente estará nublado. Mas isso não é ruim, pois a noite é fresca e as vezes a lua aparece por entre os prédios: A sua relação com a cidade mudou, já não precisa mais se envolver com as pessoas, agora é um ser humano afastado e isolado, apenas precisa vestir uma pequena máscara para se adaptar a rotina de trabalho. O anonimato te protege, não é necessário mostrar a sua loucura ou insensatez. E quer saber? Ainda tem a noite inteira para experimentar seu infinito melancólico: O surto paranoico como uma proteção da mente contra a melancolia faz com que perca o sono. Agora os  seus olhos já esboçaram uma expressão de sangue derramado, pingando pelo chão.
      As vezes gosta de andar descalço pelas ruas, para sentir o sabor  do seu corpo gelado. O gelado é forte, agride, atormenta e deixa um caos interno. Você nunca sentiria nada ao ver uma pessoa aquecida, esbanjando fogo e alegria pelos cantos, você reconhece muito bem o sentimento dentro de si, como um livro aberto que se libertou da felicidade. O encontro com você não é nada mais nada menos do que uma troca de olhares, sem contato físico. Nenhum contato físico, por favor. O encontro não é mais uma arte para você, mas mesmo assim querem apertar a sua mão. Mal sabem eles que a sua insensibilidade é uma forma de sensibilidade e que as concepções são apenas pensamentos congelados.